quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Erasmus

Travam-se conhecimentos, fazem-se amigos (ou nem por isso). Mudamos a ideia que temos de algumas pessoas (para pior, para melhor). Percebemos a falta que nos fazem uns, como nos passam ao lado outros, como uns novos preenchem as lacunas deixadas pela ausência dos velhos, sentimos que alguns não são só suplentes, são pessoas que "ganhamos", que se calhar um dia vão ser velhos (e que nos passarão ao lado ou não). Temos saudades de uns e de outros não, e surpreendemo-nos ao perceber que quem está do outro lado sofre muito mais que nós. Esses sim têm saudades, porque continuam na mesma, mas com menos: faltamos-lhes nós. Nós mudamos a rotina, a paisagem, construímos uma nova vida. Fazemos o mesmo ou diferente, mas vivemos a experiência que é nova, entusiasmante, marcante. Quem fica também se adapta, mas sempre a pensar quando voltaremos, enquanto nós escolhemos o dia consoante a low cost nos venda o bilhete mais barato. Não é ingratidão; é a evolução das coisas.
Recebemos visitas, emprestam-nos chão, deixamos a nossa marca onde passamos, com fotos para mais tarde recordar. Um dia, percorrê-las-emos com saudades, sentindo o mesmo que eu sinto agora, mas sem nunca nos lembrarmos de como isso é irónico, de como é lógico.
Falamos mais que duas línguas por dia, arranhamos uns bitaites em muitas, não percebemos as pessoas, ansiamos pelo inglês.
Pensamos no que comer, no que vestir, como o cozinhar, como o lavar.
Temos a net, o skype, o voip, o msn, o facebook, os mails - a voz, o olhar, a audição, o coração; falta-nos poder dar um abraço.
Somos fiéis, infiéis, rimos, queremos chorar... Aquela música, aquela frase, aquela comida, aquele dia, aquela saudade; somos portugueses = aquele fado.
Porque o Erasmus não é só beber, não é só sair à noite, não são só fotos, não são só viagens, não são bocados estanques e separados que se possam organizar em pastas no pc.
O Erasmus não sei bem o que é, mas é qualquer coisa. Mexe connosco, move-nos (literalmente), abana-nos, ensina-nos, mostra-nos, faz-nos, multa-nos, fotografa-nos, conhece-nos, come-nos, arrefece-nos, ouve-nos aos soluços.
Querem saber o que é Erasmus? Também eu!! Se alguém descobrir, diga.

1 comentário:

Colombianita disse...

Eu nao vivi o eramus como voçes, mas senti as mesmas coisas, a mesma confusao, as mesmas saudades, tudo o que descreveste. e tambem o que me afz mais falta é aquele abraço...para quem me conhece, sabe bem que eu sou a rapariga dos abraços, e o que mais me deprime é nao ter esse toque, esse momento, que as vezes me liga mais a uma pessoa do que mil palavras e muitos olhares.
Mas a partir de sabado vou passar a estar do outro lado, do lado daqueles que continuam na mesma, mas que morrem de saudades de voces maus amigos..e vou começar a contar os dias ate o voso regresso e estarei la em Lisboa, esperando de braços abertos para dar-vos a cada um esse abraço que nos faz tanta falta.
bjs